Por Coletivo de Comunicação do MST/SC
Da Página do MST
Com muita alegria, após organização e luta, a comunidade da Escola Construindo Caminho, localizada em Dionísio Cerqueira (SC), recebeu nesta última quarta-feira (15) a decisão judicial que barra o seu fechamento e garante a manutenção das estruturas físicas da escola.
No último dia 20 de julho, sem consulta prévia, a prefeitura notificou o fechamento da escola. Desde então a comunidade escolar e o MST têm se empenhado na luta contra essa decisão. Na resistência, a escola manteve seu funcionamento regular, organizou uma assembleia, realizou um ato na prefeitura e entrou com uma ação judicial.
Esse processo recebeu o apoio de inúmeros professores e núcleos de pesquisas de universidades, associações e sindicatos.
Decisão judicial
A juíza Carolina Cantarutti Denardin determinou que a gestão municipal de Dionísio Cerqueira deverá restabelecer, no prazo de cinco dias, as atividades escolares na Escola Municipal Construindo o Caminho, perdurando até o fim do ano letivo de 2018, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 se houver o descumprimento.
Dernardin ponderou que a legislação vigente não considera somente o custo orçamentário da manutenção de uma escola, mas também o direito dos pais de participarem da gestão escolar, tendo em vista o direito das crianças estudarem perto de suas casas, levando em consideração a especificidade pedagógica das escolas do campo, bem como o prejuízo formativo de fechar uma escola no meio do ano letivo. Contudo o processo judicial segue e a organização comunitária também.
Sem Terrinha em luta contra o fechamento
da Escola. Foto: Divulgação/MST
Fechar escola é crime
Nas últimas duas décadas, milhares de escolas no campo foram fechadas no Brasil. O MST, bem como as organizações em torno da educação do campo, reafirma que esse processo é criminoso. Nesse sentido, destacam que as populações rurais precisam ter conhecimento de seus direitos, pois as escolas que tem conseguido se manter frente aos ataques é fruto de muita resistência.
De acordo com Irma Brunetto, da direção estadual do MST, diz que a tentativa de fechar a Escola Construindo Caminho foi dura para todos no assentamento, “pois a escola está no coração de cada um”. “A construção, o cuidado e a manutenção da escola é fruto do coletivo. Não vamos permitir que a escola seja fechada”, enfatiza.
Uma mulher e dois homens estão feridos,sendo um segurança atingido no pescoço
Na madrugada de hoje (28), o acampamento Marisa Letícia, localizado próximo a Policia Federal, no bairro Santa Cândida, Curitiba, onde dormem integrantes da vigília Lula Livre, foi atacado a tiros por seguidor de Bolsonaro por volta das quatro horas da manhã.
Três pessoas estão feridas, uma delas está hospitalizada. Jeferson Lima de Menezes, de São Paulo,que trabalhava de segurança para os manifestantes Pró Lula, foi levado ao hospital com um tiro no pescoço.
Outra manifestante que dormia no local, e não desejou se identificar já foi atendida no UPA da região.
O atirador ainda não foi identificado pela policia, até o momento.
Os testemunhas alegam imprudência da policia por não estar prestando segurança permanente aos manifestantes.
Por: Jaine Amorin
Em meio ao deserto verde de eucaliptos e pinos da Araupel, que não alimenta e nem gera renda a população, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região centro do Paraná vem produzindo alimentos orgânicos e gerando renda as famílias acampadas.
No acampamento, as famílias organizaram um grupo de produção agroecológica e transformam a luta pela terra em algo mais lindo e fascinante. O grupo vem crescendo e quebrando a lógica da produção de monocultura, com 36 famílias que se reúnem mensalmente para definições internas, de plantio, comercialização, mas também de forma extraordinária sempre que se faz necessário.
Nesse mês de fevereiro, o grupo completa um ano de organização, produzindo em mais de 22 alqueires certificados pela Rede Ecovida. A área foi escolhida estrategicamente para o plantio agroecológico, onde é produzida uma grande diversidade de alimentos e variedades entre as espécies, só de feijão está sendo cultivadas mais de 32 variedades, além da produção de milho, arroz, amendoim, batata, girassol, ervilha, abóbora, mandioca, hortaliças em geral, entre outros.
Para garantir a qualidade dos alimentos orgânicos e defende-los dos inimigos naturais sem prejudicar a fauna e a flora, o grupo tem uma sala especifica para o preparo de caldas orgânicas. Essas caldas têm funções variadas, contra doenças causadas por fungos e bactérias, mas também de afastar insetos que prejudicam o desenvolvimento da planta e de seus frutos.
O grupo também recebe um grande apoio, do Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia – CEAGRO, para assistência técnica, acompanhando desde o plantio até a comercialização dos mesmos. A assistência técnica fornecida pelo CEAGRO conta com oficinas de manejo dos plantios, preparo de caldas orgânicas e outros. O grupo também conta com o Calendário Biodinâmico, que contém as informações sobre os melhores dias para fazer o manejo das diferentes espécies cultivadas.
A comercialização dos alimentos que ainda é um grande desafio para os agricultores, atualmente é feita através de feiras, mas também já é levada pra outras regiões para ser comercializado pelo núcleo Luta Camponesa.
Para Itacir Gonçalves, acampado e Integrante do grupo Agroecológico Produzindo Vidas, podemos sentir o quanto é importante estar organizado em grupo. “Pra mim, fazer parte desse grupo e fazer parte de uma formação técnica política a céu aberto. Pois sempre estamos aprendendo seja no plantio, nas conversas informais ou nas reuniões, pois debatemos para alem do nosso plantio, debatemos questões políticas, técnicas e também sobre como será no assentamento” completa o camponês.
O objetivo do grupo não é o lucro em dinheiro e sim o lucro que se tem quando se cuida da natureza e quando se alimentamos de forma saudável. “Queremos sempre ter uma produção agroecológica, farta e diversificada, pois sabemos que temos o compromisso de alimentar nossas famílias de forma saudável e o excedente comercializar, no entanto, a preço justo, buscando não entrar na rota mercantilista de produtos orgânicos com preços abusivos”, diz Gonçalves.
O técnico do CEAGRO, Rodrigo da Silva, destaca a importância da troca do conhecimento entre o profissional e os agricultores durante a realização das oficinas. “Usamos os princípios da agroecologia e da educação do campo para criar ambientes onde todo mundo ensina e aprende. Esse diálogo de saberes é fundamental para a valorização do conhecimento do agricultor”.
A produção agroecológica é a melhor maneira de se produzir, mas para isso é preciso romper com o sistema, assim como se rompe quando se ocupa um latifúndio. A luta por reforma agrária, também é uma luta por uma alimentação saudável.
Por Coletivo Estadual de Comunicação de SC
Fotos: MST divulgação
Nesta segunda-feira (19), mais de 400 pessoas se reúnem em Xanxerê, são integrantes entidades sindicais, movimentos camponeses, coletivo de mulheres, coletivo LGBT, além de parlamentares e seus representantes. A caminhada saiu da praça, passou pelo Itaú e ocupou o Bradesco, grandes devedores da previdência. O ato também reforçou a injusta desocupação violenta do Acampamento Marcelino Chiarello e a necessidade da reforma agrária.
O ato denúncia que a reforma da previdência, do que jeito que está, significa o fim da previdência pública. E que é uma falácia afirmar que a Previdência está quebrada, é preciso cobrar das empresas que paguem suas dúvidas. Os atos em Santa Catarina ocorreram principalmente em denúncia ao Itaú, Bradesco e Havan, que estão entre os principais devedores previdência social. Somente o Bradesco deve R$ 465 milhões a previdência.
Por fim, o ato em Xanxerê parou em frente ao deputado Valdir Colato, que e favorável a Reforma da Previdência.
Os atos em Santa Catarina aconteceram em Florianópolis, Joinville, Blumenau, Criciúma, Mafra, Lages, Campos Novos, Caçador, Chapecó, São Miguel do Oeste, Xanxerê, Abelardo Luz.
Faxinal dos Guedes, 29 de novembro de 2017
Texto e fotos por: Juliana Adriano
A madrugada avançava, mas muitos não queriam acreditar que seriam despejados, pois se a justiça já havia afirmado que aquela área de 1.000ha é do INCRA, como a juíza Heloísa Menegotto Prezonato poderia assinar a reintegração de posse a favor dos Prezzotto?! Porém, logo chegou a confirmação de que a cavalaria estava na região. Antes de clarear o dia, o drone da polícia sobrevoava a área. As seis horas da manhã a tropa de choque e a cavalaria da polícia militar avançaram em direção ao acampamento. Os Sem Terra gritavam em coro: “Marcelino Chiarello, aqui estamos nós, falando por você já que calaram sua voz”. “Pátria Livre! Venceremos!”, “MST! A luta é pra valer”. Uma comissão com acampados, dirigentes e advogado do MST foram dialogar com polícia. A ordem era de despejo imediato, sem espaço pra negociar. As famílias somente poderiam retirar os bens pessoais, a Cidasc viria para identificar e transportar os animais maiores, e não aceitaram tratar sobre os 200ha de lavoura plantada. As famílias tinham 15 minutos para começar a retirar as coisas. Enquanto o informe era dado o helicóptero voltou a sobrevoar. O ônibus escolar chegou, uma menina olhou pra sua mãe e disse: “Oh Mãe! Não deu tempo pra avisar pra ele que hoje a gente não vai pra escola né?!”. A mãe abraçou a criança com os olhos cheios de lágrimas, mas não chorou.

Ao som do helicóptero, as famílias voltaram pros barracos à organizar o que conseguissem. A tropa de choque avançou em direção ao acampamento. Com os rostos cobertos e as armas nas mãos, entraram enfileirados no acampamento. Foram seguidos apela cavalaria, que do alto, reforçavam a força que pressão das armas expressa. Por fim, seguiram carros e motos dos militares. Mais de 150 policiais entraram no espaço, muitos sem identificação na farda. Andaram agrupados por todo acampamento, depois parte o cercou e parte ficou circulando entre as famílias, pressionado para que agilizassem a saída.

As famílias iam desmontando suas casas, tirando as lonas melhores. Uma grande preocupação era com os animais: “O meu problema é que quando cadastrei minha porca ela tava recém prenha e ela acabou de criar. Será que vão me devolver os filhotes?”. Sem ter a solução e ao olhar a cavalaria em frente ao seu barraco, voltou a dobrar a lona com seu filho.

Em todo acampamento eram mais de 200 porcos, somando as vacas e galinhas passavam de mil animais. Uma senhora dizia: “Eu não tenho como levar a minha vaca, eles não vão tirar o leite dela, minha filha vai ficar sem leite e vaca machucada pelo ubre cheio”. Outro senhor perguntou ao funcionário da Cidasc que anotava numa folha de papel em branco o número de animais: “Vão levar meus porcos pra FEMI em Xanxerê, mas você me garante que vão tratar deles? E eles vão estar seguros”. A resposta que teve foi que recebeu ordem pra levar os animais, que nela nada falava sobre alimentar os bichos e que não podia garantir a segurança. O desespero era gigante, pois o senhor não tinha recursos pra levar seus animais pra outro lugar, cuidou tanto dos bichos e agora saber que passariam fome.

A cavalaria seguia circulando. Uma criança, da altura da sua inocência, tentou com sua mão levantada parar a cavalaria, mas esta seguiu. Eram muitas crianças no acampamento, só as que iam pra escola eram mais de 70, é eram muitas as pequenas. Ajudavam a colocar as coisas nos sacos, a pegar as galinhas soltas. Uma mãe com seu bebê recém-nascido até tentou sorrir enquanto carregaram sua mudança no caminhão, mas o olhar de suas duas filhas não deixava esconder a tristeza.

O desespero maior era o que iria acontecer com as plantas. Na área próxima aos barracos era muita produção: cebola, cenoura, couve, batatinha, mandioca, beterraba, alface, feijão, abobrinha, abóboras, plantas medicinais, etc. Enquanto colhiam o que conseguiam, olhavam no horizonte os 200ha de lavoura de milho e feijão plantados. “Tirando nós daqui é tirar nossa comida. Como vão alimentar nossos filhos?”. “Eu fiz empréstimo plantar a lavoura, tava economizando tudo o que podia no rancho do mês pra poder investir na roça. Agora que eu ia colher e pagar, vão destruir tudo”. “Era meu sonho ter meus bichos e minha lavoura. Viver da terra. Agora tão destruindo tudo e vou ficar só com a dívida”.

Quando chegou perto de meio dia começaram a retirar de dentro da área todos os que não eram acampados: sindicatos, políticos, integrantes do MST que já eram assentados. Não importava se estivessem ajudando as famílias a organizar as coisas nos sacos. Um padre foi empurrado pelo cassetete de um policial para fora da área. Depois disso, passaram a proibir a entrada das famílias que estavam fora do acampamento e chegavam pra retirar suas coisas.

Os policiais foram de barraco por barraco assegurar sua demolição e a retroescavadeira foi derrubando um a um. Caso tivesse algum móvel que a família não tivesse conseguido tirar, fogão a lenha, geladeira, o que fosse, a retroescavadeira mirava bem em meio ao móvel e o esmagava no chão. Assegurando que não tivesse nada que as famílias pudessem recuperar após o despejo. A impotência naquele momento e as lágrimas eram muito fortes. As famílias viram o fruto de seu trabalho ser destruído, mas muitas afirmavam que não iam desistir daquela área, pois a área é pública, do INCRA, e que ainda vai virar um assentamento. Ao ver um barraco rodeado de couve ser demolido, a memória remete a Guerra do Contestado, pois desde aquela época a couve acompanha a resistência cabocla.

Neste momento as famílias estão alojadas no ginásio de esportes do município de Faxinal dos Guedes. Não tem para onde ir, suas casas foram demolidas, muitos animais morreram e tem pouca expectativa de poder colher a lavoura que plantaram.
